domingo, 12 de outubro de 2008

Carta a distantes contando uma notícia de trabalho.

Algumas memórias merecem a primeira pessoa. Algumas coisas, penso eu, são para poucos. Por isso a regalia pronominal já mencionada.

Vamos começar tudo, afinal é o melhor ponto a se principiar uma história. Sim, um novo emprego. Não tão novo, posto que nem a ação nem a personagem mudam desde há 4 anos (sim eu estive contando), mas o lugar e o horário inéditos. É um restaurante e pesque-pague, durante o dia (das 9h da manhã às 7h da noite), eu mesma de sempre e como garçonete. Além da diferença espaço temporal existe agora uma coisa tão inédita quanto incômoda (e isso foi altamente eufemístico): uma daquelas tocas de redinha que se usa pra que os cabelos não deitem na comida alheia.
Outra coisa que não mudou foi o estereótipo do dono do estabelecimento. Arquétipo este que aos poucos deixa o mito de ser um estereótipo para a mais pura realidade, constatada. Quase um idoso, dado os cabelos brancos, o bigode já grisalho e a pança enorme. Olhos pequenos, com bolsas a circulá-los, cílios quase nenhum, sobrancelha a sobrar-lhe, como já demonstra a própria palavra, uma boca pequena quase inexistente, bochechas a pender-lhe pelas laterais e um humor que simplesmente não há. Ou, se há, é tão peculiar que apenas percebido por ele próprio. Isso pra ser bondosa e sem citar a exploração proposital e cega do alheio, quem quer que seja este: clientes ou funcionários. Se ambos ao mesmo tempo, então, melhor ainda. Economiza-lhe o tempo.
Havia ainda naqueles olhos quase impossíveis de se achar em meio a tanta pelanca facial (ah sim, a idade...), uma prazer inominável em observar o ridículo gratuito. O ridículo gratuito que aquela redinha simbolizava. Acerca desta (a redinha) venho a chamar um momento de reflexão. Qual seria a sua utilidade num ambiente de terra e grama onde se presencia um vendaval invejável a qualquer brisa que se preze? Tendo os cabelos severamente presos à cabeça e a terra a voar por sobre os pratos livremente, qual o real papel da famigerada "redinha"? Sim, o ridículo. O que seria da tarde infindável de um senhor idoso, solitário, descasado, dono de um pesque-pague no meio do nada, senão rir-se de algumas miseráveis com a cabeça enredada a coçarem-se pelo diâmetro completo da cabeça de pouco em pouco?
Afora isso, deve ter ficado claro o quanto fui chateada por esse ínfimo detalhe, houveram horas, quatro precisamente, duas antes do serviço e duas depois, de completa inutilidade. "Não leia seu livro porque se o Patrão (isso por sí um termo bastante explicito da opressão) vê você à toa vai gritar com você. Sim, eu sei, estamos vazios e o trabalho não há, mas vamos ande um pouco, finja que faz algo de útil.".
De qualquer forma, eram 7h20 e eu estava em casa. Horário em que, em outros dias estaria a sair para o serviço atrasada, diga-se de passagem. Vantagem única. Mas de um peso grande.
A realidade é que tenho alguns dias (dois, pra ser exata) pra decidir o que fazer dos meus infinitos empregos. Agarra-los todos, à alguns ou à nenhum e lutar pela busca de um outro ainda.
Estejam a rezar por mim, se puderem e sobrar-lhes um tempinho. A rezar pelo desfecho mais acertado.
E obrigada de qualquer forma pela paciencia a ler-me, agora.
E perdoem-me, ainda, o rebuscamento explícito do texto. Sendo as palavras uma forma de interpretação do espírito, esta complicação gramatical é a minha complicação prórpia. O meu "não saber o que fazer".

Amo-as, amigas minhas. A todas vocês.

Beijos e muitas saudades.

2 comentários:

cobraepedra disse...

Bom, eu não sou sua amiga... haushaus e também não rezo...haushaush aliás já lhe falei oq acho sobre o trabalho! espero que vc seja feliz de qq maneira, pq desses patrões gordos de cabelo branco nada mais temos a fazer do que rir até fazer xixi na calça. São estereótipos do riso, palhaços... É isso ae Bia!! Mandou bem no texto! Mas não gosto de coisas mto pessoais e te senti MTO chateada, tô certo? Po, foda-se meu! Trabalho é uma merda mesma, não é isso que derruba a gente, tá o mundo todo no mesmo barco heheheh A tristeza é uma das formas mais opressoras da dominação! Hasta amiga! ps: serei eu sua amiga?? ahushasu ass: lou, vitor lou

Bia disse...

"A tristeza é uma das formas mais opressoras de dominação"
Essa foi a melhor frase que ealguem me escrveu nesses ultimos tempos.
AMIGA! Hahahahahahahahahaa.

Bjaum!!