Noite longa. Finalmente de volta. Mais do que voltar pra casa, aquele era um retorno aos Campos Ilusórios do Passado.
As mesmas ruas, as mesmas casas. As mesmas pessoas, com as mesmas roupas e semelhantes objetivos: nenhum.
As mulheres passavam a noite a desfilar corpos mentirosos pelo salão enquanto os homens passavam seu tempo a admirar ilusoriamente aquele valor. Uma faina de curvas mal modeladas e olhares maliciosos de sosláio; de franjas e unhas; de mãos no bolso e nas garrafas. A música propagava-se pelo ar na voz de pessoas sem propósito. Usualmente não envolvidas com qualquer significado relevante; cantando estrageirismos em palavras erradas; desfiando sentimentos inexistentes e, por vezes, mentirosos.
Ela circulava incessantemente por entre aquela gente. Levando e trazendo. Servindo. A noite era sustentada pelo álcool, pelos copos e garrafas que ela manipulava. Ela, sem curvas modeladas, sem franjas ou olhares; simplesmente Ela. Personificada via de acesso pra a única coisa que valia a pena ali, a bebida.
Transitando, em meio às pessoas, ninguém era capaz de vê-la. E aquilo fascinava-a. Detentora da alma da festa e ignorada pelos olhos de todos. Olhos perdidos, depois de certa hora. Imponentemente instalados em rostos que figuravam prosperidade e sequer conseguiam ver a ilusão da sua postura. Fajutos olhos ocupando patamares sociais aparentemente importantes. Ali, em meio à futilidade asquerosa a que se prestavam, não havia qualquer patamar social que A superasse, porque era o álcool Dela o guindaste social daquela gente. Inflando egos, embelezando sorrisos desdentados, multiplicando notas nos bolsos vazios. Ali a vida era uma felicidade consumida aos goles.
Escondia-se no anonimato, observando o saldo final daquilo. A patética escória do comportamento descontrolado, empoleirado no ridículo do desequilibrio.
Uma fuga líquida de um excesso de realidade sólida.
Noite longa. Mais do que voltar pra casa, Ela já estava nos Campos Ilusórios do Passado.
[escrito em 11.02.08]
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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