As coisas prontas.
Mesas no centro, pouco à entrada pra não dizer que não havia ninguém; pouco ao fundo porque sempre hão de querer esconder-se.
Cadeiras aos pares, encaixadas próximas, porque a noite sugere não haver solidão.
Copos finos, prezando a suavidade no contato do líquido com a boca.
A janela pra refrescar.
A porta porque não é qualquer um que entra.
Luzes baixas, música.
Cada canto milimetricamente encantado.
Sorriso apostos.
- Por favor, eu apreciaria um Blood Mary, mas não o encontro no cadápio.
- Desculpe, mas não temos; os tomates andam caros e não há quem encontre o suco. Mas são tempos de morangos e o sakê os tem acompanhado bem...
- Só por conta dos tomates.
- Não temos também o Tabasco. Mas a carta de vinhos está completa...
- Um argentino?
- A especialidade são os portugueses. Há nesses vinhos o sabor da história..
- Eu gosto dos argentinos.
- Eu dizia que nossos portugueses são de uma safra especial...
- Não há comparação.
- Olhe, o tempo está frio e com o aconchego do ambiente, um champagne seria doce e delicado.
- Não me agradam as bebidas doces.
- Neste caso, Dry Martini traria certamente um toque de realismo ao contexo.
- Tradicional demais.
- Sim, uma bebida de sobriedade, apesar do paradoxo; remete à tempos...
- E as azeitonas não me caem bem.
- ... certamente.
- Não há qualquer possibilidade realmente do Blood Mary?
- É uma pena.
- Será que você teria a capacidade de sugerir algo semelhante, neste caso?
...
Desculpe, eu sou apenas a garçonete.
domingo, 31 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Boêmica
Estou farta da boemia comedida
Da boemia bem comportada
Desta boemia universitária fingida interiorana com copos de cuba falsa hi-fi nojento e cerveja vencida
Estou farta da boemia que pára e entorna mais um copo pura e simplesmente para se fazer esquecer e vomitar em seguida
Abaixo os vazios
Todas as enxaquecas, sobretudo as que já passaram
Todas as ideologias, sobretudo as da ultima moda
Todos os agitadores, sobretudo os alienados
Estou farta dessa porra de boemia atual
Promiscua
Oportunista
Ilusionista
De toda a boemia que inutiliza o que ainda há na capacidade humana
De resto não é boemia
Será fuga covarde ato puramente fisiológico se manter acordado afogado e sufocado em fármacos ilícitos, etc.
Quero antes a boemia dos visionários
A boemia dos abandonados
A boemia depressiva e solitária dos abandonados
A boemia do Patio do Colégio nos anos 2000
--- Não quero saber da boemia de pura depreciação.
Etílica Elite.
Noite longa. Finalmente de volta. Mais do que voltar pra casa, aquele era um retorno aos Campos Ilusórios do Passado.
As mesmas ruas, as mesmas casas. As mesmas pessoas, com as mesmas roupas e semelhantes objetivos: nenhum.
As mulheres passavam a noite a desfilar corpos mentirosos pelo salão enquanto os homens passavam seu tempo a admirar ilusoriamente aquele valor. Uma faina de curvas mal modeladas e olhares maliciosos de sosláio; de franjas e unhas; de mãos no bolso e nas garrafas. A música propagava-se pelo ar na voz de pessoas sem propósito. Usualmente não envolvidas com qualquer significado relevante; cantando estrageirismos em palavras erradas; desfiando sentimentos inexistentes e, por vezes, mentirosos.
Ela circulava incessantemente por entre aquela gente. Levando e trazendo. Servindo. A noite era sustentada pelo álcool, pelos copos e garrafas que ela manipulava. Ela, sem curvas modeladas, sem franjas ou olhares; simplesmente Ela. Personificada via de acesso pra a única coisa que valia a pena ali, a bebida.
Transitando, em meio às pessoas, ninguém era capaz de vê-la. E aquilo fascinava-a. Detentora da alma da festa e ignorada pelos olhos de todos. Olhos perdidos, depois de certa hora. Imponentemente instalados em rostos que figuravam prosperidade e sequer conseguiam ver a ilusão da sua postura. Fajutos olhos ocupando patamares sociais aparentemente importantes. Ali, em meio à futilidade asquerosa a que se prestavam, não havia qualquer patamar social que A superasse, porque era o álcool Dela o guindaste social daquela gente. Inflando egos, embelezando sorrisos desdentados, multiplicando notas nos bolsos vazios. Ali a vida era uma felicidade consumida aos goles.
Escondia-se no anonimato, observando o saldo final daquilo. A patética escória do comportamento descontrolado, empoleirado no ridículo do desequilibrio.
Uma fuga líquida de um excesso de realidade sólida.
Noite longa. Mais do que voltar pra casa, Ela já estava nos Campos Ilusórios do Passado.
[escrito em 11.02.08]
As mesmas ruas, as mesmas casas. As mesmas pessoas, com as mesmas roupas e semelhantes objetivos: nenhum.
As mulheres passavam a noite a desfilar corpos mentirosos pelo salão enquanto os homens passavam seu tempo a admirar ilusoriamente aquele valor. Uma faina de curvas mal modeladas e olhares maliciosos de sosláio; de franjas e unhas; de mãos no bolso e nas garrafas. A música propagava-se pelo ar na voz de pessoas sem propósito. Usualmente não envolvidas com qualquer significado relevante; cantando estrageirismos em palavras erradas; desfiando sentimentos inexistentes e, por vezes, mentirosos.
Ela circulava incessantemente por entre aquela gente. Levando e trazendo. Servindo. A noite era sustentada pelo álcool, pelos copos e garrafas que ela manipulava. Ela, sem curvas modeladas, sem franjas ou olhares; simplesmente Ela. Personificada via de acesso pra a única coisa que valia a pena ali, a bebida.
Transitando, em meio às pessoas, ninguém era capaz de vê-la. E aquilo fascinava-a. Detentora da alma da festa e ignorada pelos olhos de todos. Olhos perdidos, depois de certa hora. Imponentemente instalados em rostos que figuravam prosperidade e sequer conseguiam ver a ilusão da sua postura. Fajutos olhos ocupando patamares sociais aparentemente importantes. Ali, em meio à futilidade asquerosa a que se prestavam, não havia qualquer patamar social que A superasse, porque era o álcool Dela o guindaste social daquela gente. Inflando egos, embelezando sorrisos desdentados, multiplicando notas nos bolsos vazios. Ali a vida era uma felicidade consumida aos goles.
Escondia-se no anonimato, observando o saldo final daquilo. A patética escória do comportamento descontrolado, empoleirado no ridículo do desequilibrio.
Uma fuga líquida de um excesso de realidade sólida.
Noite longa. Mais do que voltar pra casa, Ela já estava nos Campos Ilusórios do Passado.
[escrito em 11.02.08]
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